https://www.ffms.pt/publicacoes/detalhe/1482/portugal-e-o-atlantico |
Deve dizer-se que o título do livro é algo redutor face ao seu real conteúdo. Ele começa por uma análise muito interessante do papel da China no contexto geopolítico global, em especial no Pacífico e no Índico, em contraponto com a posição americana. O livro trabalha as mutações da China como ator global, apresentando dados muito atualizados, nomeadamente de natureza económica e militar, que nos permitem entender melhor as mudanças que afetam todo o Oriente.
Num segundo capítulo, Bernardo Pires de Lima debruça-se sobre o Atlântico, refutando a tese, que considera prematura, sobre a respetiva "morte" como espaço de relevância político-económica. Na análise, o autor revisita algumas das principais identidades entre os EUA e a Europa que ajudam a justificar a sua leitura de que a relação transatlântica não apenas tem futuro como tem mesmo uma relevância crescente. O envolvimento potencial do sul do Atlântico neste contexto, em especial em matéria de segurança e defesa, é aqui tratado de forma muito criativa.»
In duas ou três coisas - notas pouco diárias de Francisco Seixas da Costa http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2016/06/bernardo-pires-de-lima.html
Este é um livrinho (são poucas páginas, de facto, mas muito ricas) que se constitui como uma excelente e agradável leitura, ao qual o, acima apresentado, atestado de qualidade de Seixas de Costa se compreende e agradece. Há neste livro algumas ideias-chave que vale a pena aqui reproduzir.
O Atlântico tem cinco grandes características (p. 107) que não só o resgatam de uma morte anunciada como antes lhe granjeiam bons augúrios:
- complexo de valores democráticos e plurais;
- nível de interconexão económica e comercial;
- renascimento energético revolucionário;
- estabilidade das artérias marítimas e das relações políticas entre os principais países e;
- natureza dos conflitos menos interestaduais.
O mercado transatlântico é o mais integrado do mundo, o mais rico e o politicamente mais coeso (p.57), como se pode comprovar pelos seguintes dados:
- 15 milhões de empregos diretos gerados pelos fluxos comerciais e financeiros entre Europa e EUA (5,5 biliões de dólares de receitas anuais, 45% do PIB global, 30% das importações e 25% das exportações) (p.55);
- Entre 2004 e 2012, o comércio de mercadorias na bacia atlântica (América do Norte, Europa, América do Sul e África) mais do que duplicou, representando praticamente metade do comércio global (p.57);
- relações comerciais e diplomáticas entre a América do Sul e a África aumentaram mais de 400% na última década (p.70);
- Brasil Argentina, África do Sul e Nigéria têm no seu conjunto 500 milhões de habitantes (o mesmo da UE), apresentam uma média de idades de 24 anos e uma pirâmide demográfica sustentável (p.68).
A verdade é que as 4 faces do hemisfério atlântico continuam muito recomendáveis. E tal como se refere na conclusão deste livro, as notícias da morte do Atlântico podem ter sido manifestamente exageradas.
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